A 14 meses para o Rio 2016, principal legado esportivo tem futuro incerto
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A 14 meses para o Rio 2016, principal legado esportivo tem futuro incerto


          Faltam 14 meses para as Olimpíadas de 2016, e o futuro do Parque Olímpico, que está sendo erguido na Barra da Tijuca, ainda é incerto. As instalações permanentes formarão o Centro Olímpico de Treinamento após os Jogos, mas a responsabilidade sobre os custos de manutenção desse equipamento, maior legado esportivo do evento, continua em debate entre o COB (Comitê Olímpico do Brasil), o Governo Federal e a Prefeitura do Rio de Janeiro, proprietária da estrutura. Em um encontro com empresários em São Paulo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que as conversas foram iniciadas para buscar um modelo de gestão para o centro de treinamento, mas evitou estabelecer um prazo para uma definição.
           - O Centro Olímpico de Treinamento é uma propriedade do Município do Rio de Janeiro. Estamos discutindo com o Governo Federal e com o COB, ver o que eles pretendem fazer. Aquela que for a melhor proposta é a que a Prefeitura vai fazer. Quem decide é a Prefeitura do Rio. Não acho adequado a Prefeitura bancar aquilo depois dos Jogos. Eu nem vou ser mais o prefeito. O centro é nacional, então não tem por que o carioca pagar por isso. O ideal é o modelo de gestão do COB, com algum incentivo do Governo Federal. Como essas coisas no Brasil são um pouco confusas, estamos tentando ajudar na construção de um modelo que permita a entrada de recursos privados, e a coisa possa se desenvolver independentemente dos ajustes ficais da ocasião - disse Paes, durante um seminário do Lide, grupo empresarial presidido por João Doria Jr., publicitário recentemente convidado para ser chefe de delegação da Seleção na CopaAmérica do Chile.
          O terreno em que o Parque Olímpico está sendo construído pertence à Prefeitura do Rio, que assumiu responsabilidade sobre a obra. Após os Jogos, parte do local dará espaço a um novo bairro, do tamanho do Leme. Por outro lado, as estruturas esportivas permanentes, como o velódromo e o centro de tênis, formarão o Centro Olímpico de Treinamento, que servirá à elite do esporte brasileiro na preparação para futuros Jogos Olímpicos. Por isso, Paes defende que o COB e o Governo Federal arquem com os custos da manutenção da estrutura esportiva.
         - Eu saio da Prefeitura logo depois das Olimpíadas, então estou tentando amarrar ao máximo possível esse legado esportivo para que não haja problemas na continuidade. Não quero equipamento esportivo parado depois dos Jogos, como aconteceu com o Pan. O legado esportivo é fundamental. Eu não queria nem ter construído o Parque Olímpico. Não é uma atribuição que deveria ser da Prefeitura, mas quando vi que a coisa estava estranha, a gente foi lá e fez. Eu não acho que deva ser responsabilidade da Prefeitura do Rio cuidar do Centro Olímpico de Treinamento, que fica como legado. Vai ser um centro de treinamento de alto rendimento do país, do Brasil, portanto, acho que deveria ser responsabilidade do COB e do Ministério do Esporte. Como estou vendo que a coisa não está muito clara, montamos um grupo para conversar e estamos desenhando esse legado esportivo - disse Paes.
          No encontro, o prefeito apresentou as Olimpíadas aos empresários como uma oportunidade de negócios. Ele ressaltou que 57% do orçamento de R$ 38,2 bilhões dos Jogos são de recursos privados, e que as verbas públicas estão direcionadas às obras de legado para a cidade, como a construção das novas linhas de metrô e BRT. Paes acredita que investimentos privados podem ajudar a arcar com a manutenção do Centro Olímpico de Treinamento.
         - O desafio do legado esportivo é definir um modelo que não dependa exclusivamente do poder público. Como o poder público vai cuidar de um campo de golfe se a gente capina muito mal os canteiros da cidade? Como vai cuidar de uma grama que exige tanta sofisticação. O próprio Centro Olímpico de Treinamento, se você entra em um momento de contingência orçamentária, a primeira coisa que vão cortar é o dinheiro dali. Temos de construir um modelo que seja permanente.
A intenção de Eduardo Paes era definir o modelo de gestão do Centro Olímpico de Treinamento até o fim deste semestre, mas o ministro do Esporte, George Hilton, já afirmou que a questão será decidida e anunciada no início de agosto, faltando um ano para os Jogos.
        Eduardo Paes também foi questionado sobre a onda de violência no Rio de Janeiro. O empresário Christophe Didier relatou o drama vivido por seu filho Victor, de 19 anos, que foi esfaqueado durante um assalto na Lagoa Rodrigo de Freitas em abril, problema que se repetiu na última semana com o médico Jaime Gold, que não resistiu aos ferimentos e morreu. O prefeito disse não se preocupar com a segurança durante as Olimpíadas, uma vez que a cidade terá um esquema especial de segurança, com a presença inclusive do Exército Brasileiro. Paes também se disse assustado com a violência no Rio e fez críticas ao policiamento na Lagoa, uma responsabilidade do Governo do Rio de Janeiro.
        - Não estou nem um pouco preocupado com segurança durante as Olimpíadas. O Rio faz com sucesso carnaval e réveillon todo ano, além de ter feito a Rio 92. Os Jogos são um grande evento, conta com grande contingente do Exército, da Polícia, da Aeronáutica... Minha preocupação com segurança é para antes e depois das Olimpíadas. A violência é uma chaga brasileira. No Rio, tem peculiaridades, como essa coisa do território dominado, de o Estado perder o monopólio da força. A Lagoa é bem iluminada, é limpa, mas falta policiamento. O que aconteceu na Lagoa Rodrigo de Freitas é falta a presença do Estado. São bandidos que estão esfaqueando com um grau de violência assustador. Lamento pelo Victor. Sou pai também, e adoro andar de bicicleta. Acho que precisa ter um momento de dizer: “Não vamos retroceder”.
        Eduardo Paes também comentou os possíveis efeitos do ajuste fiscal nas obras das Olimpíadas. Segundo o prefeito, as medidas do Governo Federal para cobrir o rombo nas contas públicas não terá consequências para o Rio 2016, apesar de o Ministério do Esporte ter sofrido um corte orçamentário de R$ 900 milhões na última sexta-feira. O prefeito explicou que são recursos privados 64% do orçamento de R$ 6,6 bilhões da Matriz de Responsabilidade (obras de instalações esportivas necessárias para os Jogos).
        - O ajuste fiscal não atrapalha as Olimpíadas, porque boa parte das obras não é paga com o dinheiro do Governo Federal. As que são (bancadas por verbas federais), a Prefeitura do Rio tem condições financeiras de adiantar recursos enquanto o dinheiro não vem - disse Paes.
        O prefeito do Rio de Janeiro ainda exaltou o legado das Olimpíadas de 2016 para a cidade-sede. Paes voltou a afirmar que a edição brasileira dos Jogos vai superar a de Barcelona, em 1992, que é considerada a mais bem sucedida da história no que se refere ao legado olímpico para a cidade.
        - Eu costumo dizer que nós vamos deixar Barcelona no chinelo. Para bom entendedor, isso quer dizer que vamos ter muito mais legado. Para cada real gasto com instalação de atletas, estamos gastando cinco com obras para a cidade. Temos desafios enormes. Nosso mantra é usar as Olimpíadas para mudar o Rio, para transformar a cidade. Neste momento, de um Brasil que volta a nos envergonhar no cenário mundial, de um Brasil da Lava Jato, de um Brasil de tanta coisa que nos incomoda, acho que temos que mostrar que o Brasil não é só isso. O Brasil também produz.
       Matéria: globoesporte.com



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